A região une história, modernidade, variedade e o belo trabalho dos produtores.

A 9ª edição dos Vinhos de Portugal, que marcou o retorno do evento ao formato presencial, movimentou o Jóquei Clube da Gávea no final de semana de 3 a 5 de junho. Além da forte presença de produtores de várias regiões no salão de vinhos, muitas degustações temáticas aconteceram, entre outros atrativos, para quem transitava por lá. O final de semana foi marcado por chuvas e baixas temperaturas, o que, em se tratando de vinhos, não deixa de ser uma oportunidade rara para se beber vinho em temperatura ambiente no Rio de Janeiro.

Mesmo com o clima frio, que normalmente pede tintos, tive a oportunidade de provar bons vinhos brancos em uma degustação sobre vinhos do Alentejo, intitulada “Os muitos Alentejos”. A sessão foi dirigida pela argentina Cecília Aldaz, com a presença de representantes das vinícolas Herdade da Malhadinha Nova e Casa Relvas. Estavam presentes também vinhos de certo modo já bem apreciados pelos brasileiros, como o Esporão Reserva Tinto, o Cartuxa Branco e o Herdade do Rocim Amphora Branco.

A proposta era mostrar a diversidade do Alentejo, região vitivinícola de maior extensão em solo português, com seu clima bem típico mediterrânico, mas que se diversifica por leves ondulações topográficas, pela alternância de solos e pela sua capacidade de aliar o rico histórico produtivo com um vigoroso investimento na modernização estilística desde os anos 1990. Isso lhe deu visibilidade e entrada no mercado internacional e abriu as portas para que outras regiões fizessem o mesmo. Ademais, o background de extenso e intenso contato com a vitivinicultura e produtores importantes lhe dão ampla sustentação.

Os muito Alentejos são representados também pelo repertório vitícola português, afinal, eis uma terra de uvas autóctones singulares, pelos seus nomes e qualidades inquestionáveis. No caso do Alentejo e de outras regiões próximas, há um amplo diálogo também entre suas castas prediletas, outras muito presentes nas demais áreas de Portugal e as famosas cepas francesas, que compõem seus longos cortes.

Nesta degustação, foi destaque, entre as brancas, a Arinto, cepa branca não tão aromática, mas com uma acidez notória, que modera a tendência opulenta dos vinhos da região, em função do clima mediterrânico, conferindo-lhes elegância e longevidade. A Arinto assina o Herdade São Miguel Esquecido 2020, um vinho fermentado e com posterior estágio em barrica de 400 litros e com leve maceração. Isso lhe confere certa complexidade aromática e mais volume em boca.

O Malhadinha Branco 2019 leva 55% da Arinto, 20% da Alvarinho e 15% de Viognier, dentre outras – uma mistura interessante, que deixou este vinho muito perfumado e, após passagem de 10 meses em barrica sob borras ficas, ele ganhou uma untuosidade muito bem-vinda, com notas de frutas maduras, cercadas de frescor. Outra cepa branca destacada, esta nativa do Alentejo, é a Antão Vaz, que fica bem em climas quentes, fazendo vinhos mais encorpados e de aromas tropicais. Uma perfeita associação com a Arinto, corte que assina o Cartuxa Branco 2020. Gostei do tinto Herdade das Servas Vinhas Velhas 2015, muito expressivo em boca, com boa acidez e muito macio, não aparentando seus 15% de álcool.

Para fechar com alegria, em talk show com Jorge Lucki e a enóloga Susana Esteban, degustei o seu Cabriolet tinto, vinho de personalidade única, expressão da Touriga Nacional na região, com seu aroma floral profundo e um trabalho precioso que une brilhantemente complexidade e elegância.

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