Degustação apresenta a riqueza e diversidade da histórica e ainda desconhecida produção.

Os vinhos portugueses caíram mesmo no gosto do brasileiro, e há uma crescente nivelação regional de sua qualidade. Isso quer dizer que a produção de regiões menos conhecidas segue a trilha de outras que já se destacam, renovando sua produção e investindo em qualidade. Afinal, é um país com muita vocação para a viticultura, um grande histórico de produção regional e suas particularidades.

Logo após o evento Vinhos de Portugal, tratado em meus dois últimos artigos, fui convidada para participar de uma degustação de apresentação dos Vinhos do Tejo, organizada por Daniel Perches e Beto Duarte, no Rio. Foram degustados 16 rótulos, selecionados pela Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos do Tejo. Embora conte com um histórico longínquo, a região é menos reconhecida internacionalmente e faz um trabalho de divulgação em mercados importantes, como o Brasil.

A produção regional se autodenominava Vinhos do Ribatejo, como indicava a DOC criada em 2000, mas, em 2009, foi instituída a Rota dos Vinhos do Tejo, que sinaliza com mais evidência o elemento central de sua paisagem: o Rio Tejo – em torno do qual se desenvolveram cidades, vilarejos, mosteiros, criações de cavalo lusitano e quintas repletas de olivais e vinhas.

O Rio Tejo corta a região de norte a sul, antes de chegar ao seu estuário na região de Lisboa. Há três áreas de concentração da produção, com perfis distintos: a “Charneca”, na margem esquerda do Tejo, com solos arenosos e clima mais seco, onde há produção de brancos e tintos; o “Bairro”, à margem direita do Tejo, que tem um relevo mais irregular, onde predominam altitudes de 200m, solos argilo-calcários e produção de castas tintas; o “Campo”, que se situa no entorno e ao longo do Rio Tejo, área sujeita a inundações periódicas e que demanda uma viticultura de muita precisão, normalmente mais focada em castas brancas.

Assim como em todo o país, o que não falta são uvas nativas brancas e tintas de ótima qualidade. Em se tratando de uma região que passa por grande renovação, menos comprometida com ícones nos quais assentam a sua fama, há uma grande abertura para incorporação de cepas internacionais também, especialmente as francesas mais consagradas. Outro fator, que é comum aos vinhos portugueses, é a cultura de realização de cortes de várias uvas num mesmo vinho. Para brancos, as principais utilizadas, dentre as portuguesas, são a Fernão Pires, Arinto, Verdelho e Alvarinho, seguidas das francesas Sauvignon Blanc, Chardonnay e Viognier. Para tintos, dentre as tintas autóctones, as principais são Touriga Nacional, Trincadeira, Castelão, seguidas das internacionais Alicante Bouschet (e origem francesa), Aragonez (outro nome para Tempranillo), Syrah e Merlot.

Mas isso é pouco para resumir a sua produção. A degustação da qual participei caprichou numa seleção bem diversificada de vinhos brancos, rosé (1) e tintos, em cortes, mas também varietais. Para citar alguns, temos o Encosta do Sobral Reserva 2021, que une duas cepas nativas (Gouveio e Vinhosinho) com a francesa Viognier, num bom conjunto de aromas e untuosidade, que remetem à sua fermentação e estágio em barricas. Degustamos também um varietal da Touriga Nacional, o Vale Galego Reserva 2015, com os típicos e intensos aromas de frutos negros e violeta da casta, boca estruturada, elegante, com um final longo. No Nana Reserva 2016, da Quinta da Lapa – um corte que une grandes cepas vinificadas em Portugal (Touriga, Castelão, Alicante Bouschet e Aragonês) – as qualidades se somam para formar um rico bouquet de frutas maduras, notas tostadas (café) e especiarias.

Algo que me chamou a atenção foi a presença de vinhos bons e que não cansam, além da relação preço/qualidade. O Herdade do Catapereiro Escolha tinto 2020 é um desses vinhos com presença e frescor, muito agradável para qualquer ocasião. Parece fácil, mas ser simples e suficiente não é para todos os vinhos!

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