De passagem pela Suíça, visitei algumas regiões com produção de vinhos e provei alguns rótulos típicos, pouco conhecidos no exterior. Afinal, a produção dos vinhedos suíços é reduzida e pouco competitiva externamente, se considerarmos o alto valor do franco suíço, que torna até mesmo um vinho mais simples mais caro do que a média comercializada em outros produtores vizinhos. Ou seja, uma pequena produção, em grande parte assimilada pelos próprios consumidores locais, que contam com um padrão aquisitivo mais alto do que a média.

Mas a produção de vinhos existe e é antiga – há registros de vinhas em seu território há mais de 20 séculos. País da Europa Central, constituído em 60% pelos montes alpinos, há algumas áreas que gozam de uma latitude mais baixa e alinhada com outras regiões europeias de produção de vinhos tintos que, normalmente, precisam de um estágio maior de maturação. Mas o fator altitude colabora para acentuar um perfil climático mais continental, com maior rigor invernal e verões moderados pelo frescor noturno.

Há seis regiões vitivinícolas: Genebra, Suíça Alemã, Ticino, Três Lagos, Valais e Vaud. Uma prova da sua ancestralidade está na existência de mais de 250 variedades cultivadas, embora a maior produção esteja concentrada em quatro delas, nessa ordem de grandeza: Pinot Noir, Chasselas, Gamay, Merlot – que, juntas, constituem 72% do vinhedo nacional.

A Pinot Noir é uma constante nas produções europeias de latitudes mais altas. Trata-se da uva tinta de maior prestígio para as faixas de clima mais frio, em locais onde muitas vezes imperam os vinhos brancos. Na Suíça, a Pinot Noir pode ser rotulada com este nome, que é mais internacional, mas está localmente mais identificada como Blauburgunder.

A segunda cepa mais plantada é a branca Chasselas, uma variedade considerada nativa, mas que também é plantada em outros países, como França, por exemplo, onde pode ser vendida para consumo in natura.

Na Suíça, ela é a uva para vinhos do dia a dia, frescos e simples, apesar da existência de alguns Chasselas especiais. Tradicionalmente usado na preparação da fondue suíça, ou como acompanhamento dela e da Raclette, um prato de queijo derretido, servido com batatas cozidas e picles.

Há estilos de Chasselas diferentes, produzidos em áreas distintas e com denominações particulares. Os estilos mais comuns são o Fendant e o Epesses, produzidos nas áreas do Valais e Vaud, respectivamente. O Chasselas de St. Saphorin é um tipo mais valorizado, produzido em Vaud, cantão bem a oeste da Suíça, próximo da região vitivinícola dos Três Lagos (Neuchâtel, Murten e Biele), onde se faz o Oeil de Perdrix, um rosé da Pinot Noir.

O Valais é a maior região vitivinícola da Suíça, com uma produção diversificada de brancos e tintos, inclusive de uvas mais raras e bem especiais, comuns à produção do Vale d’Aosta, na Itália. Falo das autóctones branca, Petite Arvine, e tinta, Cornalin. A Petite Arvine faz vinhos com aromas cítricos, uma acidez nervosa, com certo volume, complexidade e um toque mineral em boca. A Cornalin apresenta aromas de cereja, framboesa, violeta, com taninos firmes e macios e um amargor final. Ali também se faz o Dôle, um vinho tinto popular, corte da Pinot Noir com a Gamay, leve e frutado, para ser consumido jovem.

Gamay e Gamaret aparecem nos vinhedos suíços

A Gamay, uva típica da região de Beaujolais, mas também plantada em outras AOCs francesas, está mais presente na área vitivinícola de Genebra, justamente na porção bem francesa da Suíça. Nesta área e em Vaud, uma cepa nativa tinta com boa presença quantitativa é a Gamaret, muito utilizada em cortes tintos, com associação de madeira.

Mais ao sul da Suíça, fronteira com a Itália, a união entre latitude mais baixa e a proteção do frio setentrional pelos montes alpinos criaram um clima mais mediterrâneo e favorável à produção da Merlot. O Ticino é a porção italiana da Suíça, especializada em vinhos tintos da Merlot, que representa mais de 80% de seu vinhedo. Até em branco, a Merlot é utilizada. Vinhos tintos respeitáveis da cepa se encontram ali, em perfis mais frescos ou de guarda.

Finalmente, na região chamada de Suíça Alemã, mais setentrional e fronteiriça com Alemanha e Áustria, a altitude e o perfil continental serão dominantes, criando condições para a produção de vinhos brancos aromáticos, em estilos semelhantes aos vizinhos, feitos com as variedades Pinot Blanc, Müller Thurgau, Riesling, Gewurztramier e Pinot Gris.

“Visitei a cidade de Bad Ragaz, cantão de St Gallen, onde se encontra a DOC Pfäffers. No caminho para o Mosteiro de Pfäffers, com vestígios de muralhas romanas (Porta Romana), há vinhedos da uva Johanniter, plantados em terraços a 700 m de altitude, da qual se faz o vinho Portaser Johanniter, levemente doce e refrescante. Essa área está de frente para o cantão de Graubunden, onde se encontra a DOC Mayefeld, notória pela produção de bons tintos da Blauburgunder (Pinot Noir).”

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