Apesar de jovem, a produção de vinhos foi se encontrando e se identificando com o País.

A vitivinicultura uruguaia é bem jovem, e a presença dos seus vinhos em nossa prateleira ainda é mínima em relação aos de outros países, apesar das nossas proximidades. Isso tem a ver com um processo emergente de qualificação e construção de uma identidade produtiva, assim como ocorre também em algumas regiões do Brasil, mas também pelas suas dimensões: conta com uma população de aproximadamente 3,5 milhões de habitantes, distribuída em seus quase 174.000 km². Fundada colônia espanhola em 1624, em 1825 tornou-se independente e, na segunda metade século 19, recebeu muitos imigrantes europeus, sobretudo espanhóis e italianos – os quais, em1868, representavam 68% da sua população.

Nesse mesmo período, houve surtos similares de imigração em outros países da América Latina, inclusive a chegada dos italianos na Serra Gaúcha, fundamentais no desenvolvimento da viticultura brasileira. No caso do Uruguai, a viticultura teve início com os colonizadores, no século 17, quando se destacava a uva Moscatel, para ser consumida na mesa e usada na produção do vinho familiar. Nada muito relevante. Somente em 1870, a produção começa a ganhar status comercial, e dois personagens que imigraram para Salto, no Uruguai, contribuíram para a sua fundação: Francisco Vidiella, espanhol, de Tarragona e o basco francês, Pascal Harriague.

Vidiella trouxe da Europa, em 1873, uma seleção de boas variedades de uva, com as quais fez um cultivo experimental de 36ha em Cólon, Montevidéu. Apesar de ter, entre as uvas, a Cabernet Sauvignon, a Merlot e a Grenache, as que obtiveram êxito foram a Gamay Blanc e a Folle Noir (apelidada de Vidiella). O basco Pascal Harriague descobriu a Tannat em Concordia, Argentina (região fronteiriça com Salto), plantada por um conterrâneo basco. Percebendo a sua boa aclimatação em Concordia, ele levou mudas para serem experimentadas no Uruguai. A Tannat fez tanto sucesso em suas mãos que foi chamada de Harriague até 1919, já que, até então, não se sabia que aquela era a cepa Tannat, embora ela seja originária do Madiran, Sudoeste da França, região próxima do país basco francês, de onde eles eram nativos.

A despeito da produção uruguaia não ser muito quantitativa em números absolutos, a grande presença de imigrantes europeus somada a um clima mais ameno, às vezes bem frio, tornaram o vinho um produto habitual de consumo. Já em 1892, consumia-se 29 litros per capita, mas apenas 13% deles eram nacionais. A produção evoluía bem, mas acabou sendo interrompida pela chegada da praga da Filoxera em seguida, quando os vinhedos atacados tiveram que ser queimados por outorga da Ley Anti-Filoxera, de 1894.

Bodega Carrau (foto de Míriam Aguiar)

As primeiras décadas do século 20 foram dedicadas à reestruturação da produção, ao combate de falsificações e, com o crescimento da população, a concentração dos vinhedos se deslocou para as proximidades de Montevidéu. Em 1930, os mesmos 29 litros eram consumidos per capita, mas agora quem gozava de uma taxa ínfima de consumo era o vinho importado, já que 98% do vinho bebido internamente era uruguaio.

O fator qualidade, entretanto, ainda era duvidoso, principalmente pela presença de uvas americanas e híbridas, como alternativas para vencer períodos econômicos difíceis. O processo de modernização da vitivinicultura uruguaia, assim como em países vizinhos, teve que passar pela reconversão dos vinhedos, pela plantação de boas mudas de viníferas, com manejo mais adequados dos vinhedos, cuidados sanitários e melhor aparelhamento tecnológico. O intercâmbio com pesquisadores franceses foi fundamental e inspirou os empreendimentos de produtores pioneiros, que se tornaram grandes referências para a vitivinicultura uruguaia, como Javier Carrau, Reinaldo de Lucca, Dante Irurtia e Juan Pedro Toscanini.

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