O BIVB visita o Brasil e aposta no crescimento do consumo de vinhos da Borgonha com custos mais acessíveis.
Mais um evento de vinhos reunindo a imprensa do Rio de Janeiro ocorreu agora em maio, dessa vez um encontro memorável com representantes do BIVB — Comitê Interprofissional dos Vinhos da Borgonha —, instituição responsável pela comunicação e promoção desta que é, indiscutivelmente, uma das regiões vitivinícolas mais célebres do mundo. E a Borgonha veio com uma equipe de peso para apresentar os seus vinhos: 13 rótulos de algumas de suas denominações de origem foram degustados e apresentados por Anne Moreau, presidente de Comunicação do BIVB, e pelo especialista em vinhos da Borgonha, Paulo Brammer. O evento aconteceu no espaço de eventos do Lasai, restaurante estrelado Michelin, que encantou a todos com sua respeitável gastronomia.

A ação, intitulada “Take a closer look”, faz parte de uma turnê mundial. Por aqui, incluiu as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e foi considerada pelo próprio comitê como algo inédito no Brasil, que teve como objetivo apresentar os vinhos da Borgonha de um jeito mais caloroso.
O que fundamenta esse investimento é a percepção de que os consumidores brasileiros estão cada vez mais demonstrando interesse por vinhos de qualidade; entende-se que o mercado brasileiro está crescendo de forma lenta, mas segura.
Em newsletter da instituição, há um artigo intitulado “Borgonha e Brasil: uma história de exportação em plena expansão”. O artigo afirma que o número de consumidores regulares aumentou em 9,3 milhões de pessoas entre 2019 e 2024 e que os embarques de vinhos da Borgonha para o Brasil quase dobraram em volume em relação à média dos últimos cinco anos. Além disso, em dezembro de 2024, a União Europeia e o Mercosul chegaram a um acordo de parceria que prevê uma redução significativa nas barreiras alfandegárias, o que deve beneficiar as exportações de vinhos da Borgonha, bem como de outros vinhos europeus. Certamente, se o acordo gerar redução de valores dos vinhos, o consumo deve aumentar, especialmente de regiões tão respeitadas como a Borgonha, mas considerada, em média, muito cara.

Voltando ao evento, apesar de a apresentação ter feito um sobrevoo pelas características mais gerais da região, identificando suas sub-regiões, clima e solos, houve um destaque em apresentar denominações menos conhecidas da Borgonha. Entende-se que essas áreas apresentam relativa quantidade e diversidade de produtos que permitem tornar a Borgonha mais acessível em custo.
Os vinhos das AOC’s Chablis foram os mais presentes na degustação, que apresentou rótulos demonstrativos da ascensão qualitativa em termos de complexidade e intensidade quando se passa de um AOC Petit Chablis para um AOC Chablis, para um AOC Chablis 1er Cru e, finalmente, para o topo da pirâmide: AOC Chablis Grand Cru.
A região vitivinícola da Borgonha apresenta um formato vertical e estreito, contínuo entre Dijon (norte) e Mâcon (sul), e com uma lacuna entre Dijon e a área de Chablis, que se encontra em seu extremo norte, a quase meio caminho entre Dijon e Paris. São 230 km entre Chablis e Mâconnais, e o macroclima é continental, especialmente na subárea de Chablis, Grand Auxerrois & Chatillonnais, que sofre com frequentes e intensas geadas. Abaixo de Chablis & Grand Auxerrois, que respondem por 20% de sua superfície vitícola e produção, há a Côte de Nuits, onde se concentram tintos de grande prestígio, que representam apenas 6% da área produzida na Borgonha, mas que certamente ficam com uma polpuda fatia da receita.
Logo abaixo da Côte de Nuits está a Côte de Beaune, que tem como centro a cidade de Beaune e que apresenta uma produção mais mista em termos de brancos e tintos de alta gama, embora ali estejam os brancos de maior reputação. Mais ao sul estão a Côte Chalonnaise e a área de Mâconnais, que são grandes apostas para se garimpar vinhos mais competitivos em preço/qualidade. É ali, inclusive, que está a maior produção de Crémants de Bourgogne, os espumantes feitos pelo método tradicional da região — uma boa alternativa efervescente francesa para quem acha o Champagne muito caro por aqui.
São, ao todo, 84 AOC’s na Borgonha, sendo 33 AOC’s Grands Crus, 44 Village e Village 1er Cru e 7 AOC’s regionais. Essa notável subdivisão de um território, que representa apenas 4,3% dos vinhedos franceses, foi possível graças a um avançado mapeamento e estudo edafoclimático do próprio território, iniciado pelas ordens monásticas desde a Idade Média.
As variedades de uvas mais plantadas e que assinam os grandes vinhos da região são Chardonnay (57% do vinhedo) e Pinot Noir (34% do vinhedo).

São vinhos notórios, cuja proporcionalidade entre produção (5,5% dos vinhos franceses com AOC) e receita internacional (25% da receita exportada de vinhos franceses tranquilos de AOC) já diz tudo sobre o peso deste patrimônio vitícola. Uma em cada duas garrafas de Vin de Bourgogne é exportada, sendo que 31% fora da União Europeia.
O primeiro mercado é o dos EUA, e essa dependência se torna um problema na era Trump, pois, apesar de ter caído de 200% (ameaça anunciada em 13/03) para 20%, as novas tarifas devem impactar a relação com esse mercado. O Brasil, no meio disso tudo, é um degustador bebê, que não chega a comprar 1% da produção de vinhos da Borgonha, mas com vistas a se tornar um adolescente sedento, especialmente se o preço ajudar.
Relação de vinhos degustados
- Louis Bouillot Crémant de Bourgogne Perle de Vigne Grande Réserve N/V
- Domaine Clotilde Davenne Saint-Bris 2023
- Domaine Sangouard-Guyot Pouilly-Fuissé Terroirs 2022
- Domaine Chofflet Givry Héritage Rouge 2021
- Maison Joseph Drouhin Santenay Rouge 2020
- Domaine Ventoura Petit Chablis 2023
- Pascal Bouchard Chablis Le Classique 2023
- Domaine Gautheron Chablis 1er Cru Les Fourneaux 2022
- William Fèvre Chablis Grand Cru Les Clos 2018
- La Chablisienne Chablis 1er Cru L’Homme Mort 2019
- Domaine Bernard Defaix Chablis 1er Cru Côte de Léchet 2022
- Domaine Faiveley Marsannay Rouge 2020
- Domaine de Montorge Montagny 1er Cru Les Coères 2022